quinta-feira, 26 de junho de 2008

Resumo: MARX, Karl. O Capital: crítica da economia política. 12º ed. Rio de Janeiro, Bertrond Brasil, 1988. “Divisão do Trabalho e Manufatura; A maquinaria e a indústria moderna” (p. 386 a 440) – livro 1, t.1.


1. Dupla origem da manufatura

A divisão do trabalho é originada na manufatura, de forma artesanal, predominando como forma característica do processo de produção capitalista durante os séculos XVI ao XVIII. A manufatura nasce de dois modos: quando são concentradas numa oficina sob o comando do mesmo capitalista, diversos trabalhadores de especializações diferentes onde um produto para ser fabricado deve passar nas mãos destes até ser finalizado, ou a manufatura pode ter origem oposta, o mesmo capital reúne diversos trabalhadores que fazem a mesma espécie de trabalho, e posteriormente, de forma acidental, acabam por dividir o trabalho, devido à circunstancias externas. Portanto, a manufatura ora introduz a divisão do trabalho num processo de produção ou a aperfeiçoa, ora combina ofícios anteriormente distintos. Indiferente do seu ponto de partida, seu resultado final é um mecanismo de produção cujos órgãos são seres humanos.


2. O trabalhador parcial e sua ferramenta

O trabalhador parcial e sua ferramenta constituem os elementos simples da manufatura. O trabalhador coletivo que constitui o mecanismo vivo das manufaturas consiste de trabalhadores parciais que durante a vida inteira, executa uma única operação de forma limitada, fazendo com que a manufatura produza em menos tempo ou eleve a força produtiva do trabalho. A manufatura se caracteriza pela diferenciação das ferramentas, imprimindo aos instrumentos formas diferenciadas para cada emprego ou trabalhador específico. Isso faz com que as ferramentas se tornem simples e aperfeiçoadas, adaptando-se as funções exclusivas de cada trabalhador, criando assim, uma condição para o surgimento da maquinaria que consiste numa combinação de instrumentos simples.


3. As duas formas fundamentais da manufatura: heterogênea e orgânica

A manufatura heterogênea é o processo de produção faz com que juntem numa mesma oficina diversos trabalhadores com trabalhos diferentes e específicos independentes entre si. No entanto, alguns processos nem sempre são feitos na própria manufatura. O fracionamento da produção em processos heterogêneos pouco permite o emprego do instrumental evitando assim as despesas para o capitalista. A fase da manufatura orgânica produz artigos que percorrem fases de produção associadas, com processos gradativos, em que cada trabalhador realiza uma tarefa específica, reduzindo assim, o tempo gasto ao passar de um estágio para outro, em que a matéria-prima se encontra ao mesmo tempo em todas as fases de produção, a organização deixa o trabalhador aprisionado a uma única fração de ofício.

4. Divisão do trabalho na manufatura e divisão do trabalho na sociedade

A divisão do trabalho é a diferenciação dos grandes ramos (indústrias, comércios) em espécies e variedades de divisão do trabalho em particular (sexo, idade). A divisão do trabalho social surge através da troca entre ramos de produção que são originalmente diversos e independentes entre si. Mas quando a divisão do trabalho constitui o ponto de partida, os órgãos particulares se desprendem sob a influência das trocas de mercadorias, tendo como fundamento a separação entre a cidade e o campo. A divisão do trabalho na sociedade se processa através da compra e venda dos produtos dos diferentes ramos de trabalho, a conexão, dentro da manufatura, dos trabalhos parciais se realiza através da venda de diferentes forças de trabalho coletiva.


5. Caráter capitalista da manufatura

A manufatura se submete à disciplina do capital, criando uma hierarquia também entre os trabalhadores. Na manufatura, o enriquecimento do trabalhador coletivo e do capital, em forças produtivas sociais, realiza-se à custa do empobrecimento do trabalhador em forças produtivas individuais.

A cooperação baseada na divisão do trabalho, é uma criação natural, espontânea, tornando-se uma forma consciente, metódica e sistemática do modo de produção capitalista. A economia política observa a divisão social do trabalho em geral do ponto de vista exclusivo da divisão manufatureira do trabalho e vê nela apenas o meio de produzir com a mesma quantidade de trabalho mais mercadorias, barateando-as e apresentando assim a acumulação do capital. Com a divisão do trabalho melhoram, portanto, o produto e o produtor. Como obra de arte econômica atingiu seu apogeu apoiada na extensa base constituída pelos ofícios das cidades e pela indústria domestica rural. Mas, seu estreito fundamento técnico ao atingir ela certo estagia de desenvolvimento, entrou em conflito com as necessidades de produção que ela mesma criou. A divisão manufatureira do trabalho produziu as máquinas, eliminando o oficio manual como principio regulador da produção social. Assim, não há mais necessidade técnica de fixar o trabalhador a uma operação parcial, caindo às barreiras ao domínio do capital.


Desenvolvimento da maquinaria

O capital quando emprega maquinaria tem por fim baratear as mercadorias, encurtar a parte do dia de trabalho pela qual preciso o trabalhador para si mesmo, para ampliar a outra parte que ele dá gratuitamente ao capitalista. A maquinaria é o meio de produzir mais valia. Toda maquinaria desenvolvida consiste em três partes: o motor, a transmissão e a máquina-ferramenta ou máquina de trabalho. O motor e a transmissão existem apenas para transmitir movimento à máquina-ferramenta que se apodera do objeto de trabalho e o transforma de acordo com o fim desejado. A revolução industrial apodera-se das mãos humanas e deixam-o no começo, a função de força motriz e ao mesmo tempo, a função de vigiar a máquina e corrigir a mão seus erros. No entanto, mais tarde, a forca motriz é aplicada com animais, vento e água.

A máquina a vapor inventada no fim do século XVII não provocou nenhuma revolução industrial, ao contrário, a criação da máquina-ferramenta que tornou necessária uma revolução na máquina a vapor. A máquina da qual parte a revolução industrial substitui o trabalhador que maneja uma única ferramenta por um mecanismo que ao mesmo tempo opera com certo numero de ferramentas idênticas, acionado por uma única força motriz.

Temos então que distinguir a cooperação de muitas máquinas da mesma espécie, do sistema de máquinas. No primeiro caso, o produto é feito por uma máquina que executa diversas operações que eram realizadas por um artesão com sua ferramenta. No segundo caso, um verdadeiro sistema de máquinas só toma lugar das máquinas independentes quando o objeto de trabalho percorre diversos processos parciais conexos levados a cabo por um conjunto de máquina-ferramenta de diferentes espécies, mas que se completam reciprocamente. A divisão do trabalho agora consiste de combinação de máquina-ferramenta parcial complementares. Cada máquina parcial fornece matéria-prima à máquina seguinte, funcionando todas ao mesmo tempo.

A maquinaria só funciona por meio de trabalho diretamente coletivizado ou comum. O caráter cooperativo do processo de trabalho torna-se uma necessidade técnica imposta pela natureza do próprio instrumental de trabalho.

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