quinta-feira, 26 de junho de 2008

Resumo: MOTTA, Fernando C. Prestes. Caldas, Miguel P. Cultura organizacional e cultura brasileira. São Paulo: Atlas, 1997. “Traços brasileiros para uma análise organizacional” (p.38 a 54)


Os autores Fernando C. P. Motta e Miguel P. Caldas abordam uma análise das culturas nas organizações brasileiras e sua diversidade baseada em traços culturais do Brasil e também em metodologias de correntes norte-americanas.

Os traços culturais brasileiros que, no entanto, podem parecer nítidos para alguns e para outros não, por se tratar de um país heterogêneo e as vezes contraditório, faz com que qualquer análise das organizações sejam diversificadas em suas abordagens e formas. Para esta análise, os autores abordam como base de estudos dois grupos de pensadores do Brasil: Gilberto Freyre e Caio Prado que abordam as raízes da nossa cultura e por outro lado autores como Roberto da Matta que usa uma reflexão mais atualizada do Brasil.

As raízes são constituídas pelo triangulo racial composto pelos portugueses, índios e negros africanos, formando um caráter influenciado pela cultura européia e africana, católica e maometana, caracterizando assim a formação da sociedade brasileira da época colonial marcada até hoje por seus antagonismos. Nas organizações os autores fazem uma análise sobre os traços brasileiros como a hierarquia, personalismo, malandragem, sensualismo e aventureiro, projetando um perfil organizacional brasileiro.

Explicam os autores que a hierarquia foi herdada das ordens religiosas de Portugal com formas militares que com estas características conquistaram os maiores latifúndios da Europa refletindo na colônia brasileira incorporada também pelo senhor de engenho com os escravos. Por outro lado, a grande colonizadora do Brasil foi a figura patriarcal que estabeleceu um poder aristocrático com obediência e respeito estabelecendo uma relação de modelo moral entre governantes e governados, implicando múltiplas possibilidades de classificação da sociedade.

Em relação ao personalismo os autores relatam que se deu através da relação patriarcal sobrevivendo até hoje em nossas relações de trabalho, misturando uma relação puramente econômica com laços pessoais de amizade. Entre as raízes deste comportamento, há a influência do africano por sua ternura, bondade, deixando traços de afetividade e intimidade. Assim acontece em nossas empresas, as relações de amizade e intimidade entre patrão e empregado geram sentimentos de confiança no empregado e proteção paternalista do patrão.

Os autores esclarecem a malandragem mostrando que em nossa sociedade o individuo é valorizado pela sua rede de relações interpessoais. Assim, quando nos deparamos com impessoalidades, apelamos para relações e para intimidade, criando uma saída intermediaria para o impasse entre o impessoal e o pessoal, buscando dessa forma, uma identificação com as outras pessoas. Sendo assim, o malandro explicado no texto é caracterizado por ser flexível, dinâmico, criativo, sensível, adaptando-se às mais diversas situações e ocasiões difíceis.

Já o sensualismo, os autores relatam que foi herdado de Portugal e até mesmo a religião é caracterizada por um cristianismo humanista com apegos à carne, e também o carnaval e a culinária focam o sensualismo. Nossas relações sociais, segundo os autores, são influenciadas pelo sensualismo, como maneira para se obter o que deseja mais facilmente, através do contato da pele, falas carinhosas, olhares e conversas maliciosas.

O traço do aventureiro como do trabalhador participam em maior e menor grau em combinações da personalidade da cultura de um povo. O brasileiro foca a perspectiva material com retorno em curto prazo com a lei do mínimo esforço, deixando o metódico e o trabalho para depois, desprezando o trabalho manual, que desde a colonização era considerada tarefa de escravos, levando a uma associação de desqualificação social, assim como a tarefa domiciliar também é voltada para a empregada ou apenas para as mulheres.

Dessa forma, os autores concluem que com base nos traços brasileiros, as organizações precisam de mudanças, adaptando os traços da nossa cultura fortalecendo o processo de transformação, recorrendo as nossas origens e a um perfil do que somos hoje.

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